Entropia Máxima

By Branca Andrade

14 dezembro 2006

Velha Infância


Cinco minutos da praia, um amplo quintal onde minha mãe cultivava as plantas, meu primeiro lar... Catete! Lugar que "fabricou" todas as minhas lembranças; lembranças nostálgicas de um tempo que não voltará. Aliás, não me recordo de nenhum tempo que tenha voltado, mas é assim que costumam "metaforizar" quando sentem saudades. Aproveito para roubar uma frase feita não-sei-por-quem. Era lá que eu estudava, brincava, vivia... Lembro das tardes passadas nos jardins do antigo Palácio da República. Tenho lembranças minhas lá em várias idades.
Em fotos de quando era bebê vejo-me chorando no carrinho e no fundo o lago do parque com uma garça. Outras fotos revelam minha irmã e eu brincando, sob os olhares atentos da minha mãe, no parquinho. Lembro também, quando era adolescente das conversas com os amigos do Zaccaria na gruta, e lembro de levar minha melhor amiga para namorar naqueles gramados.
Foi lá, naqueles jardins do palácio, que minha mãe deixou minha tartaruga Suzy após o falecimento do meu pai. E foi no cinema do palácio que assisti o filme "O Rei Leão" - chorei muito quando o pai de Simba, Mufasa, morreu. Talvez por sentir a dor de Simba ao perder o pai.
Lembro dos passeios nas calçadas com minha mãe, das brigas quando queríamos, eu e minha irmã, brincar na rua com os meninos, e das idas ao Supermercado no Largo do Machado (o mais próximo da minha antiga casa).
Quando minha irmã e eu começamos a despontar para a adolescência dois meninos foram expulsos da portaria do nosso prédio aos berros pela minha mãe. Eles tocaram o interfone lá de casa para pedir para nos namorar, claro que cada um com uma de nós. São tantas as lembranças, mas o que mais me dói é pouco lembrar do meu pai. Poucas são as fotos que ele está presente para me puxar da memória estes tempos distantes. Minha atual melhor amiga me disse que provavelmente ele era quem tirava as fotos, por isso não se fazia presente. Acho que prefiro pensar assim que pensar que ele não estava lá. Nas fotos ele não aparecia, mas na minha vida ele sempre esteve, e está!
Lembro das manhãs que acordava, sempre com minha irmã ao meu lado. Até das brigas sinto falta, pelo menos ela estava perto para "apanhar". Agora por vezes me sinto só. Não é carência de carinho, pois isso um grande amor já me supre. É solidão devido ao afastamento da família. Minha irmã; em outro continente, minha mãe; em outro município e meu pai, tomara que esteja no céu!
O que tenho hoje de concreto da minha família são as lembranças em fotografias. Lembranças aprisionadas no Catete. Lembranças "da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos (infelizmente) não trazem mais", como dizia Casimiro de Abreu.